segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Redes Sociais, Desserviço e Participação Política


A revista Veja na sua edição do dia 8 de fevereiro de 2012 trouxe em sua capa uma matéria sobre o Facebook. Não vou me dedicar muito aqui sobre essa reportagem, mas sim sobre uma outra matéria tratando de discussões sobre política e outros temas polêmicos na internet, em especial na rede social do momento. O texto "Política não se curte" está disponível nesse link e peço que você o veja antes de continuar lendo meu post. 


Vamos lá. Não irei entrar no mérito das inclinações ideológicas da Veja. Muito menos do seu histórico de matérias altamente tendenciosas. Só quero deixar clara a minha indignação por uma revista de seu tamanho se prestar a um desserviço como esse de, em um tempo onde as mobilizações sociais tem sido em grande parte reflexos de discussões iniciadas em espaços on-line, onde denúncias, notícias e discussões tem tido espaço e voz que nunca teriam nas grandes mídias, entre vários outros usos sociais e culturais que o espaço da internet tem proporcionado, publicar uma matéria desmerecendo, e mais do que isso, desencorajando discussões políticas e de "temas polêmicos" no facebook.

Desculpem-me, mas eu discordo completamente.

Acho que o facebook é um espaço de relações sociais. Logo, embates, questionamentos, dúvidas e  reflexões fazem parte dessas relações. Numa cultura onde pensamentos como "política, religião e futebol não se discute" são disseminados e, pior que isso, reproduzidos e praticados por muitas pessoas, um tipo de matéria como essa só serve pra confirmar cada vez mais um pensamento de "Ah, não devo pensar, refletir, questionar. Deixo isso pra aqueles que sabem quando, como, e onde faze-lo bem." Tudo bem que eu sou uma pessoa que curte esses assuntos - tanto que estou chegando ao ponto de escrever sobre isso no meu blog pessoal - e por isso eu tenho uma inclinação a usar bastante do espaço do facebook pra discutir, chegando às vezes até a incomodar um ou outro. Assim como um milhão de posts inúteis, tirinhas de memes, mensagens do signos, solicitações de aplicativos e posts de orientação ateísta atacando a fé dos outros também me incomodam, e mesmo assim eu continuo usando o facebook e falando com as pessoas. 

O fato é que temos que enfrentar todo os dias pessoas com posturas contrárias àquelas que acreditamos ser as corretas e escolhemos para nós mesmos. Isso faz parte da vida em sociedade, conviver com o diferente - ou até com o incômodo, sem noção ou uma pessoa que só discorda de você. É muitas vezes nesses contrastes e conflitos que repensamos nossas ideias, ou simplesmente refinamos nossos argumentos. Incentivar que se faça um bom uso desse espaço é muito válido, vide as várias pessoas que se usam do anonimato da internet pra criticar os outros sem fundamento, tecer comentários preconceituosos, cometer crimes achando que não serão punidos e outras coisas. Mas desestimular a discussão política, ah não, ai já é contribuir pra alienação do povo! (Se bem que em se tratando da Revista Vej...não, deixa pra lá)

Desculpem se pareço um desses ativistas de facebook, universitário mimimi revoltadinho, pseudo esquerdista que leu uma mísera xerox de um mísero capítulo de um comentarista sobre Marx e já quer mudar o mundo. Mas me senti pessoalmente ofendido com isso que foi dito. Senti que a matéria estimula aquilo que já é praticado no dia a dia, o afastamento da população dos temas sociais, culturais e políticos que são de interesse crucial pra nossa vida em sociedade.

Não sou um defensor de que a internet é a salvação do mundo. Penso que ela é nada além de um meio, um instrumento. As pessoas e seus usos é que farão a diferença. Se alguém é um completo idiota no dia a dia, não vai ser no 'face' que ela vai virar um gênio. Como todo instrumento, nas mão de quem sabe usá-la e sabe usá-la com bons propósitos, ela pode gerar bons frutos. Agora, no caso contrário...

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Pra fechar, seguem duas sugestões de vídeos:





Beijos e abraços a todos, e pensem nisso.


2 comentários:

  1. É negro, infelizmente as mídias de massa estão nas mãos de pessoas mal intencionadas ou corrompidas pelo dinheiro. Sou completamente à favor do levantamento de questões que são verdadeiramente relevantes a realidade de nossa sociedade. Só que já estamos tão contaminados, que maioria dos pensamentos expostos se resume a algo imbecil e irrelevante, infelizmente. Mas ainda acredito na mudança. Parabéns pelo post. Continue firme! Valeu maninho, muita paz!

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  2. Se foi preciso uma matéria [patética, falaciosa, subestimante] dessas na revista, é porque, certamente, o campartilhar de idéias e propostas de reflexão nas redes sociais está incomodando, mobilizando, e levantando questões que INCOMODAM os que são hegemonia da notícia.
    A voz, a imagem, a palavra são instrumentos de poder, e parece que não querem negociá-las.
    A gente só se dá conta do quanto a mídia é poderosa quando, por exemplo, em pleno exercício da greve dos professores em julho de 2011, fui à Escola Estadual em Rio Bonito onde era professora[até tomar nojo do Cabral e do Governo do RJ] conversar e resolver questões, e a coordenadora de turno disse:
    -Ué, ainda há greve? Achei que não estava acontecendo, porque a gente chega em casa e a Globo não diz nada!

    Em seguida a Globo diz que greve só tinha 1% de adesão e que na Assembléia geral só haveria 200 professores. A última dita esvaziada assembléia foi na Fundição Progresso, encheram-se de militantes as pistas, as escadas e as arquibancadas todas do 2º andar. Bem, não sabia que a lotação da casa era tão miúda...

    Obrigada por compartilhar, Guilherme...
    Dps vou voltar pra ver os poéticos. hehe

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